Há quinze dias escrevi aqui que a pouco mais de um ano das próximas eleições presidenciais é já possível ter algumas certezas, embora permaneçam no ar outras tantas dúvidas.
Quanto às certezas, identifiquei quatro que me parecem relevantes: o actual presidente vai candidatar-se a um segundo mandato; não surgirão, à direita, outros candidatos fortes; haverá, concerteza, temas fortes à direita e o que vai estar em jogo, em 2011, é a definição de modelos concretos de sociedade e de Estado em muitos aspectos antagónicos.
Conforme prometi, então, apresento agora outras tantas dúvidas.
1. Vai a esquerda ter um único candidato (na 1ª volta)?
A resposta seria sim:
1.1 Se o PS não estivesse tão fulanizado por razões várias (históricas ou recentes), se não estivesse tão dependente do êxito do Governo (e, em particular, do Primeiro Ministro), se não estivesse tão comprometido com a defesa de interesses específicos do bloco central (que alguns comentaristas de alto gabarito preferem apelidar de "interesses transversais") e se não estivesse, mais uma vez, a gerir "a crise" do capitalismo pedindo novos sacrifícios aos que desde sempre são sacrificados;
Em última análise, a resposta à questão depende da posição que Sócrates ( e o seu "petit comité") vier a tomar e do tempo em que essa decisão seja tomada.
1.2 Se o PC considerasse mais importante derrotar o (re)candidato da direita logo à 1ª volta do que reafirmar "pela enésima vez" a sua força eleitoral, cada vez mais ameaçada pelos bloquistas e pelos trânsfugas que o abandonam directamente para os partidos de direita ou para a abstenção.
2. Vai a esquerda ter um candidato na 2º volta?
Se, na área do socratismo ou do soarismo aparecer um candidato para além do único que já se anunciou (Manuel Alegre), e se esse candidato tiver o apoio oficial (ou oficioso) do PS, é bem provável que o (re)candidato da direita ganhe à primeira, possívelmente ainda com mais votos do que os que obteve em 2005. Essa situação será ainda mais provável se o PC, como é habitual, aparecer com um candidato próprio que não desista à boca das urnas.
3. Vai o PS (e o Secretário-Geral) apoiar oficialmente a candidatura de Manuel Alegre?
Provavelmente sim, porque essa será a única forma de impedir a forte ruptura partidária à esquerda, que se adivinha que pudesse surgir na sequência da aprovação, com um ou com os dois partidos da direita, do Orçamento de Estado de 2010 e de um plano que garanta aprovações de diplomas importantes e do OE de 2011. O apoio a Manuel Alegre aparecerá, nesse contexto, como a tentativa de "prenda" à esquerda em geral, mas em particular à sua própria esquerda. Será a única forma de silenciar ou abafar a forte contestação social que irá surgir na sequência dessa aprovação. Será a única maneira de Sócrates impedir as críticas políticas vindas da base do partido
Se o actual presidente for reeleito em 2011, a direita deixa de considerar útil manter o PS no poder e a forma mais eficaz de ter uma maioria, um governo e um presidente, é chumbar o respectivo Orçamento.