Respondendo ao desafio lançado no twitter por João Pedro Moreira Freire e, por exemplo, pelo blogue Tribuna Socialista para dinamizar o debate sobre a próxima campanha presidencial, avanço com mais uma curta nota pessoal. Por mim sou inteiramente a favor desse debate, bem como do esforço de convergência entre as esquerdas (que vai, aliás, além do cenário das presidenciais). Esse debate sobre o próximo (?) acto eleitoral (a eleição presidencial) é, de facto, vital para tentarmos desenhar ou antever alguns dos contornos do cenário político dos próximos tempos. Porém, como não podemos (nem queremos) fechar os olhos à realidade, não faz, a meu ver, muito sentido discutir em abstracto, neste momento, as possíveis candidaturas presidenciais, sem falar de nomes. Isso seria ignorar uma realidade óbvia, que é o facto de já estar no terreno (apesar de ainda não oficialmente assumida como tal) uma candidatura às presidenciais de 2011.
Nesse sentido, e como me assumo há muito um apoiante de M. Alegre (MA), a minha questão só pode ser a de saber até que ponto será viável (e quais os necessários cuidados a ter, para...) que a próxima campanha presidencial conduza a uma aproximação entre as diferentes forças (e movimentos) de esquerda. Um dos requisitos, creio eu, será o de que, desde logo, nenhum força política (a começar pelo PS) pretenda instrumentalizar uma tal candidatura. Que tem todo o interesse em assumir-se para lá de qualquer lógica partidária, ou seja, como uma candidatura aberta à sociedade, uma candidatura que exercite o conceito de cidadania activa, mas naturalmente supra-partidária. Esse é, de resto, um dos requisitos para que saia vencedora. Porque vejo o debate e a campanha (em sentido lato) das próximas eleições presidenciais, não como um fim em si, mas sim como um factor, um momentum – no sentido que lhe foi atribuido durante a candidatura de Obama, sem no entanto pretender qualquer paralelismo – capaz de contribuir decisivamente para virar uma nova página na história da nossa democracia. Também não creio que o problema se limite à unidade entre as esquerdas a todo o custo, como se aí residisse a chave dos nossos problemas. Essa será, sem dúvida, uma condição necessária, mas não suficiente.
Penso, de resto, que os cenários que se aproximam e o dinamismo que uma candidatura de Manuel Alegre pode suscitar na sociedade, se tal processo for bem conduzido, deverão obrigar, como espero, a que os partidos políticos que apoiem tal projecto o façam por força de uma onda social de apoio que os suplante. Não é que isso signifique (ou que se pretenda) qualquer secundarização futura dos partidos políticos na vida democrática. Pelo contrário. Estou convencido de que, caso se confirmem os pressupostos de uma candidatura abrangente de MA, fundada em premissas e processos de participação inovadores, serão os próprios partidos políticos (e movimentos) de esquerda que poderão sair renovados dessa experiência de partilha e de convívio plural que ela pode suscitar.
Como já escrevi, é provável que o PS venha a apoiar MA na próxima candidatura presidencial. Todavia, caso haja dúvidas, porque não realiza o PS umas "primárias" para saber quem os seus militantes desejam que o partido apoie? Em todo o caso, seria bom que isso não significasse nem um engolir de "sapos vivos" por parte dos militantes do PS mais distanciados de MA, nem qualquer tentativa de instrumentalização oficial de uma candidatura que é constitucionalmente definida como resultado de uma decisão individual. Até porque uma possível vitória dependerá, antes do mais, desse estatuto abrangente e necessariamente ambíguo (ou seja, do candidato ter um pé dentro outro fora do PS), que deve ser mantido até ao fim, e se possível até saia consolidado perante o país.
Post publicado em simultâneo no Boa Sociedade